(Foto: Acervo Pessoal/ Desfile da DASPU na novela Caminho das Índias)
Os segundanistas do curso de Design da UNESP Bauru recebem, em Metodologia Científica, muito mais que um professor de ABNT qualquer. Ana Beatriz Pereira de Andrade, Ana Bia, leciona sua aula inaugural com o impacto de sua trajetória profissional enquanto Designer e suas experiências de vida como mulher negra, que vão desde a Marinha do Brasil, refletida em sua personalidade (capaz de mergulhar em uma indústria gráfica e dentro de um avião de cargas, tudo isso em uma madrugada, para garantir o pedido do cliente), até a Academia, da PUC Rio, à Estácio de Sá e, finalmente à UNESP Bauru.
Na cidade - lanche, acompanhada do fiel escudeiro Henrique Aquino, Ana Bia coloca em sua atuação na FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP, o apreço pelas redes aprendido com Ana Branco, professora do Departamento de Design da PUC Rio. Essa influência se resume em uma diretriz de projetos essencial para Ana Bia e para o Desenvolvimento Social Sustentável: O Empoderamento de Pessoas e Comunidades. Atendendo essa necessidade básica, segue o ditado pessoal da entrevistada: "Tudo dá Projeto!". Assim, Ana Bia Andrade foi pioneira em expandir o impacto do Departamento de Design para Buenos Aires, na Argentina, onde é Embaixatriz do Congreso Latinoamericano de Enseñanza del Diseño, proposto pela Universidad de Palermo, com apresentação de diversos projetos que se reúnem ao redor de suas crenças sociais, trazendo visibilidade à diversidade no Setor 2,5 e do Design Social.
(Foto: Acervo Pessoal/2015 - Congreso Latinoamericano de Enseñanza del Diseño)
3 Perguntas
1. Quais foram seus principais desafios durante sua carreira, entre a Marinha, o Mercado e a Academia?
- Os desafios surgem a partir de escolhas. Fiz a minha: ter Design na veia aos quatorze anos de idade. Cursei a graduação na PUC-Rio como bolsista atleta, monitora de disciplinas de Projeto e estagiando junto ao designer Leon Algamis. Ao me formar, não tinha recursos financeiros para montar um escritório. Daí surgiu a oportunidade de ingressar na Marinha do Brasil, algo inesperado conforme minha ideologia político-social. Fui Terceiro Sargento Ana Andrade com muita alegria, criatividade, aprendizado e conquistas. Foram os três anos de quartel que me permitiram alcançar o sonho de fundar a Projeto Visual Comunicação Ltda. Junto com dois sócios e uma estagiária, trilhamos dez anos de bons trabalhos, prêmios e reconhecimento profissional no universo do Design. O Mestrado em Comunicação e Cultura nada teve a ver com intenção de ingressar na Academia. Sempre gostei de ler e escrever. Surgiu o convite para dar aulas com um antigo professor. Logo em seguida, já professora na Estácio de Sá, aceitei convite da PUC-Rio e da Gama Filho. Em 1999, montei um Curso de Formação Profissional com duração de dois anos (sem férias) em Design Gráfico. O Curso, com equipe altamente especializada e pós graduada, foi avaliado três vezes com conceito A pelo INEP/MEC. Foram 10 anos de muitas felicidades e trabalho intenso. Sempre participei de fóruns acadêmico-científicos por iniciativa própria e por encontros com amigos. Ao terminar o Doutorado fui demitida da Estácio e a UNESP Bauru me abriu as portas em Concurso Público. Sou uma carioca bauruense com muito orgulho!
2. Como você percebe o panorama atual em relação à desigualdade de gênero e etnicidade? Através desse olhar, quais são suas vitórias pessoais? E próximos objetivos?
- A intolerância é algo a estar em pauta todos os dias. Minha Tese de Doutorado trata das visibilidades e (in)visibilidades femininas. Penso que a mulher é mais visível do que tudo. É preciso aprender a se colocar em cena. Ser negra, preta, crioula, como queiram, é inerente a tudo. Está na pele! Não tem jeito. Sou uma mistura de pai branco com mãe negra. Tenho muito orgulho de me ‘comportar’ como uma pantera negra a la Angela Davis, Lélia Gonzalez (uma querida professora), Beatriz Nascimento, dentre tantas mulheres que me inspiram. Não sei se destaco vitórias, mas o dia a dia e o propósito de estar disponível para tantos jovens que ainda tem dúvidas acerca de opções, escolhas e definições de gênero e etnicidade. Sempre indo a luta.
3. Com relação à sua atuação profissional, o que você considera o seu principal legado? O que te inspira para isso?
- Acredito na vida. Tenho fé em cada minuto. Não sei se tenho legado. Tenho amigos. Tenho alunos e ex-alunos. São a minha fonte de força e inspiração para seguir em frente com erros e acertos. Eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão, e vou a luta com essa juventude (parafraseando Gonzaguinha). ‘Bora’ trabalhar que foi como aprendi a ser feliz!
(Foto: Henrique Perazzi Aquino/Reprodução Facebook/Bloco Bauru sem Tomate é Misto )
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