O terceiro setor é um termo para designar a atuação de organizações independentes e não-governamentais no mercado. As possibilidades de atuação são diversas. Exemplo é a Revista Ocas”, um periódico em comunicação comunitária que atua na geração de renda para pessoas em vulnerabilidade social.
“A ideia é ser um projeto de passagem para que após o projeto as pessoas consigam se restabelecer, reconstruir suas vidas e ter estabilidade”, conta Marina Massagardi, vice-presidente da organização. Marina tem uma longa experiência na área de captação de recursos e atua dando consultorias e treinamentos como forma de possibilitar a sustentabilidade financeira das organizações do terceiro setor.
Ela já orientou instituições sociais como Plan International, WWF, Observatório do Terceiro Setor, Fundação Ema Klabin, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, Apae de Franca, IPEFEM, Hospital do Câncer de Londrina, Instituto Natura, União de Escoteiros do Brasil, Pan American School, entre outras.
Com mais de 15 anos de experiência, iniciou na área como voluntária na Fundação SOS Mata Atlântica e na Revista Ocas", onde é a atual vice-presidente. O periódico atua como uma possibilidade de geração de renda para pessoas em vulnerabilidade social, principalmente aquelas em situação de rua.
A Revista é um caminho para amenizar uma problemática que necessita de mais atenção das políticas públicas. Em 2022 o Brasil atingiu 281 mil pessoas em situação de rua, segundo o levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Nesse sentido, a revista usa a comunicação comunitária como forma de entender as implicações desse cenário, fornecendo os exemplares para venda e conversão do dinheiro diretamente aos beneficiários do projeto, que são pessoas em extrema vulnerabilidade social. A iniciativa atende ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 8, proporcionando oportunidades de geração de renda própria e dignidade no trabalho.
Conversamos com a Marina para entender como a captação de recursos pode contribuir para a sustentabilidade financeira de organizações do terceiro setor e também conhecer um pouco do seu trabalho com a Revista Ocas”. Acompanhe abaixo a entrevista!
Como a área de captação de recursos pode ajudar o setor da economia criativa no Brasil? É uma opção benéfica para empreendedores da área?
Hoje, como consultora de captação de recursos, entendo que podemos ajudar o terceiro setor nos caminhos para desenvolver a profissionalização da área e desenvolver novas metodologias, ou adaptar algo já existente no setor privado, para que elas consigam buscar a sustentabilidade.
É uma área que tem um amplo espaço de trabalho a ser desenvolvido e poucos profissionais. Com investimento na área é possível alavancar a economia brasileira, tanto com empreendedores sociais como no terceiro setor.
Você acredita que a captação de recursos
pode ser um caminho para superar crises ocasionadas pela pandemia de Covid-19?
Com a pandemia, infelizmente, muitas organizações deixaram de arrecadar e ficaram vulneráveis pois não estavam preparadas para atuar com outras estratégias além das tradicionais. Então sim, a captação é um caminho para superar crises e precisa ser estudado, implementado com diversificação de fontes, com investimento e profissionalizado para gerar uma sustentabilidade a longo prazo com resiliência diante de situações adversas.
A sociedade frequentemente normaliza a crise social de pessoas em situação de rua, gerando o que se chama de aporofobia. Como a Revista Ocas” contribui na vida dos beneficiários e qual o impacto nos locais de implantação?
A Revista Ocas” surgiu para entender a necessidade de pessoas em situação de vulnerabilidade. Para que tivessem voz na sociedade e que pudessem ter sua independência financeira, pois infelizmente são marginalizados e inviabilizados.
A ideia é ser um projeto de passagem para que consigam se restabelecer, reconstruir suas vidas e ter estabilidade, tendo acesso a moradia, alimentação e liberdade. Além disso acreditamos que através das pautas da revista (cultura, questões sociais, entre outras) contribuímos para empoderamento dos beneficiários, que muitas vezes participam da construção da revista, valorizando suas vozes e experiências, tornando-se parte integrante do projeto.
A Revista Ocas” foi a primeira publicação de rua com venda e geração de renda no Brasil, e hoje temos parceiros como o Aurora da Rua, de Salvador, e a Traços, de Brasília e Rio de Janeiro, que ampliam ainda mais as vozes dos beneficiários e fortalecem a representatividade e visibilidade dos projetos. Contribuímos para promover uma mudança de paradigma na forma como a sociedade enxerga e lida com as pessoas em situação de vulnerabilidade, reconhecendo sua dignidade como pessoas com direitos.
Extra: como podemos ajudar e adquirir a Revista Ocas”?
Hoje estamos com a produção das novas edições paradas, mas é possível doar pelo site ou comprar a revista de um dos nossos vendedores: O Ronaldo, que fica na Pinacoteca e o Roberto, que costuma ficar no Instituto Chão.
Para conhecer mais sobre a Revista Ocas”, acesse: https://www.ocas.org.br/sobre-revista