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3 Perguntas: Silvana Arduini - curadoria em exposições


Imagem: Silvana Arduini - Curadoria em exposições
Conheça um pouco do trabalho da pesquisadora!

A história está cheia de protagonistas invisíveis, aqueles que contribuem com causas importantes mas nem sempre são reconhecidos. Rubens Borba de Moraes é um deles. Ele participou de articulações importantes para a Semana de Arte Moderna em 1922 e também criou o Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, sendo um incentivador das bibliotecas públicas.


A história do bibliotecário foi resgatada e está em exposição na Oficina Oswald de Andrade, realizada por meio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária e Cultura (Proec) e da Coordenadoria Geral de Bibliotecas (CGB) da Unesp até o fim de março.


Conversamos com Silvana Arduini para saber mais sobre o processo de resgate da história do pesquisador. Colecionador e apreciador de obras e produções raras na literatura, também exerceu grande trabalho na área da bibliografia com seu método de catalogação.


Silvana da Silva Antonio Arduini é bibliotecária, professora, graduada em Biblioteconomia pela Puc-Campinas e Mestre e doutora em Ciência da Informação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Desenvolve projetos sobre a relação entre Biblioteca e Educação, e, em seu doutorado, sob orientação do Professor Edmir Perrotti, estudou a institucionalização da Biblioteconomia no Brasil a partir da perspectiva de Rubens Borba de Moraes.


“Rubens sabia que bibliotecas isoladas não teriam o efeito desejado sob a construção de uma sociedade leitora”, conta a curadora. Confira mais detalhes abaixo, em mais uma entrevista em nossa coluna #3Perguntas!


1) Como é feito o processo de curadoria de uma exposição?


O meu primeiro contato com o Rubens se deu por meio do Doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP, sob orientação do professor Edmir Perrotti. Nessa primeira fase saí cheia de ideias e questões, pois os arquivos têm muito a contar. A lista de documentos era gigante e a quantidade de contatos com o pessoal dos arquivos também. Daí, o encontro com o Nicholas Betoni foi perfeito pois tínhamos anseio de apresentar para o Brasil os legados de Rubens. O retorno aos arquivos ficou mais fácil pois juntos completamos o quebra-cabeça.


Junto com a equipe incrível da Unesp pensamos na narrativa a ser contada e sobre como dialogar com diferentes públicos. Nós visitamos os arquivos em busca de um resgate da vivência pessoal de Rubens Borba de Moraes. Nós queríamos ir além de sua intelectualidade. Por isso, trouxemos documentos que contam um pouco sobre suas relações sociais, sua infância e laços familiares. Trouxemos também relatos de momentos em que ele expressa alegria, desgosto, raiva, conformidade e descontentamento. Buscamos também trazer para o público um pouco da relação de Rubens com grandes figuras da Biblioteconomia, como Laura Russo, Adelpha de Figueiredo e Lenyra Fraccaroli.

Todo o trabalho foi realizado por uma equipe muito alinhada e comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, e disso me orgulho muito. Eu espero que a exposição sirva de ânimo e inspiração para quem visitar. Infelizmente temos muito ainda por fazer, inclusive a respeito de questões ligadas à universalização do livro e da leitura, questões caras ao grupo de modernistas


2) Rubens Borba de Moraes foi um grande incentivador das bibliotecas. Como foi o processo de resgate de documentos e informações para a criação da exposição "Um protagonista invisível"?

Depois de construirmos a narrativa, selecionamos os documentos que comporiam a exposição. Com a ajuda de duas fotógrafas profissionais voltamos aos arquivos para resgatar os documentos selecionados. Além disso, teve um trabalho imenso por parte da Unesp de contatar dependentes e familiares de todos os documentos selecionados na busca por autorização de uso de imagem.


Foi muito importante contar com a ajuda de pessoas interessadas em colaborar com o projeto. Recebemos muitas indicações de documentos e lugares para buscar mais informações. O volume de documentos expostos equivale a um quarto do que juntamos neste processo. Ainda tem muito a ser mostrado.


3) O título "um protagonista invisível" sugere que o reconhecimento de sua contribuição foi tardia ou pouco considerada. Quais reverberações do ativismo de Rubens Borba é possível encontrar nesta exposição?

Rubens era um homem ambicioso e organizar uma exposição sobre ele me fez pensar na responsabilidade que tenho como bibliotecária em buscar não se deixar abater pelas dificuldades impostas por um sistema que não reconhece na biblioteca como dispositivo cultural com potencialidade de transformar mentes e também corações.


O fato de Rubens, bibliotecário e brasileiro ter sido um dos primeiros diretores em uma das divisões da ONU nos ajuda a pensar sobre a responsabilidade que temos de trabalhar para uma cultura de paz. Estamos o tempo todo nos colocando, vendo e observando em relação ao outro, ao diferente e aos que pensam como a gente. Entender o papel dos livros, da leitura e da memória é condição essencial para a construção de uma sociedade mais justa em direitos de fala e participação social.


Os projetos de biblioteca pública da Divisão de Bibliotecas do Departamento de Cultura, durante um tempo significativo, serviram de inspiração para outros países da América Latina. O que mostra o lugar estratégico que tivemos com a bandeira das bibliotecas públicas. Eu diria que mais que Bibliotecas, ele defendeu um projeto de sociedade leitora.


Nas comemorações de 60 anos de regulamentação da profissão de bibliotecário, trazemos a bandeira de Rubens Borba de Moraes, que defende que um bibliotecário deve pensar além das técnicas. Os trabalhos de organização e gestão de acervos, para ele, tem um sentido mais profundo: participar da construção de uma sociedade mais igualitária em direitos. Daí a chamada de atenção para que os profissionais não se fechem nos trabalhos técnicos e rotineiros.


Rubens também nos faz pensar sobre o serviço bibliotecário que para ele tem como objetivo principal o atendimento ao público e a contribuição para a construção de um Brasil que se reconheça por sua diversidade mas também por suas singularidades. E aí que se encontra o papel cultural e educativo do bibliotecário.


 

Para quem quiser conferir de perto a exposição, que resulta de uma minuciosa curadoria, visite a Oficina Oswald de Andrade, em São Paulo! Para mais informações, acesse o site: https://www.exposicaorbm.org/


Exposição: Rubens Borba de Moraes: um protagonista invisível

Promoção: Pró-reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) e Coordenadoria de Ação Cultural (CoAC)

Organização: Coordenadoria Geral de Bibliotecas (CGB)

Curadoria: Silvana Arduini e Nicholas Betoni

Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo - SP, 01123-001

Segundas a Sextas-feiras - 10h00 às 20h00 - Sábados - 12h às 18h


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