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Design contemporâneo em quarentena: uma crítica Revisão de respostas de design à crise da Covid-19



Papeis sociais e políticos do design
Arte Desenvolvida pela LM

Autores: Mônica Moura, Iana Uliana Perez, Lucas Furio Melara e José Carlos Magro Junior


Resumo:

O presente artigo tem como objetivo analisar casos brasileiros e internacionais de respostas projetuais às crises relacionadas à pandemia do COVID-19. Inicia com reflexões sobre os papéis sociais e políticos do design, enfatizando a importância da inovação social, o ativismo do design e o design de transição para o design contemporâneo. A abordagem metodológica adotada é qualitativo e quantitativo com avaliação e seleção de dados baseados nos métodos de pesquisa bibliográfica, documental e documental. O resultado de 113 casos mapeados é apresentado por síntese gráfica e discutido através da pesquisa bibliográfica.

Palavras chave: Design Contemporâneo, Design Ativismo, Pandemia, Inovação Social, Design de Transição.

1.  Introdução


Estamos enfrentando a maior crise global de saúde dos últimos 100 anos: a pandemia do COVID-19. Ao mesmo tempo, o cenário contemporâneo é palco de múltiplas crises sistêmicas - econômicas, políticas, sociais e ambientais -, que são agravadas pela pandemia e podem ser vistas como sua causa, como atestam vários pensadores contemporâneos (por exemplo, Davis & Klein, 2020; Mascaro, 2020; Žižek, 2020). Em todo o mundo, o sistema atual tem sido incapaz de prevenir a pandemia e conter os danos socioeconômicos resultantes dela. Por um lado, algumas instituições políticas e pessoas em posições de poder têm respondido às crises atuais com ações que podemos caracterizar como necropoliticas1, especialmente em Brasil, onde uma parte significativa da população se torna cúmplice da agenda de genocídio organizada pelo governo federal. Por outro lado, pesquisadores e profissionais de várias áreas do conhecimento apresentaram soluções não apenas para prevenir ou tratar a COVID-19, mas também para enfrentar as consequências socioeconômicas da pandemia. O projeto fez sua contribuição, mas é necessário analisar o desempenho do projeto para ver se ele está limitado a respostas de emergência à crise de saúde COVID-19 ou também considerar as crises sistêmicas que a pandemia agrava. Além disso, novas pandemias podem ocorrer em o futuro curto ou médio, e já estamos enfrentando os primeiros sinais de uma crise climática. Portanto, este artigo tem como objetivo analisar casos brasileiros e internacionais de respostas do design às crises relacionadas à pandemia da COVID-19, investigando se as abordagens adotadas convergem para a inovação social, o ativismo do design e o design de transição, cuja importância é explicado a seguir.


1.2 O papel social e político do design contemporâneo


O design contemporâneo registra a expansão dentro das relações humanitárias e sensíveis.

Embora os textos de design que previam o futuro não apontassem problemas de saúde e a

necessário fortalecimento das políticas públicas a elas relacionadas, as indicações de

ações políticas, sociais e de transição já estavam surgindo como fundamentos essenciais

Para Bomfim (1997), apresentar soluções para os problemas contemporâneos implica a

trabalho transdisciplinar de design baseado na observação da realidade e na aplicação de

métodos indutivos e experimentais. Além disso, emergências contemporâneas exigem

mais do design do que soluções estéticas ou aquelas que perpetuam ideologias dominantes e valores. Redig (1978), por exemplo, indica a importância do ação política, e interdisciplinar do design considerando o ser humano, a agenda do design nas últimas décadas (por exemplo, Löbach, 2000; Bürdek, 2006; Margolin, 2006; Bonsiepe, 2011). Com a urgência da transição para a sustentabilidade e questionando a modelos atuais de produção e consumo, o papel social e político da contemporaneidade design torna-se cada vez mais importante. As três abordagens de design apresentadas a seguir são exemplo disso.


1.3 Inovação social

A responsabilidade social e política dos designers não é um tema novo. Papanek (1971) já defendia a ação social e ecológica dos designers. Mais tarde, Heller e Vienne (2003) apontaram a necessidade de conscientizar sobre o desempenho político e social dos designers com base em posturas críticas. No cenário atual, a Agenda 2030 (ONU, 2015), alinhada à Teoria da Motivação Humana de Maslow (1943), contribui para (re)pensar o ecossistema contemporâneo em termos sociais e ambientais. Outra contribuição essencial vem da inovação social - SI, que corresponde a novas soluções mais eficazes do que as existentes para atender às necessidades sociais e aumentar a capacidade de ação dos cidadãos ao lidar com problemas complexos ou intratáveis (Santos et al., 2019; Manzini, 2015).


SI emerge de comunidades criativas que trabalham colaborativamente para resolver problemas cotidianos, muitas vezes estabelecendo novos estilos de vida e padrões de produção e consumo (Santos et al.,2019). Busca soluções mais justas e eficientes para os conflitos apresentados na contemporaneidade que refletem diretrizes, mentalidades, projetos e produtos que têm sido ineficientes para promoção da equidade e da justiça social e ambiental. O processo SI pode ser de cima para baixo, de baixo para cima ou híbrido. O primeiro refere-se a iniciativas que envolver especialistas, tomadores de decisão ou ativistas políticos; na segunda, surgem soluções da própria comunidade (Manzini, 2014). Assim, o SI não precisa de designers, mas eles podem fazer contribuições significativas como profissionais (designers especialistas) dedicados à prática, ensino, pesquisa e extensão. No entanto, no ecossistema das comunidades criativas, são igualmente importantes. Mesmo sem qualquer treinamento em design, designers difusos manifestar a capacidade humana de exercitar a criatividade, aplicando-a num projeto adaptado à realidade dos atores sociais.


Para tornar o SI mais provável e eficaz, os designers especialistas podem atuar como facilitadores, apoiando iniciativas existentes e participação em equipes de co-criação. No entanto, eles também podem começar o processo de SI, agindo como ativistas do design. Em ambos os casos, eles se juntam em processos de co-criação com designers difusos. Portanto, o papel dos designers não é mais projetar produtos "fechados", serviços, mas para expandir as capacidades das pessoas, colaborando na criação e implementação de novas formas de vida e ação às quais os indivíduos envolvidos atribuem valor significativo (Manzini, 2014, 2015).


1.4 Design Ativista


Um dos primeiros autores a tratar o design como ativismo foi Papanek (1971), que chamou em designers para assumir um desempenho mais revolucionário relacionado a questões políticas,atividades militantes e subversivas, que cada vez mais tomam espaço na contemporaneidade discussões. Assim, o termo "design activism" foi incutido em 2004, A Conferência da Pacific Rim Community Design Network definiu um dos seus eixos temáticos como "movimento cidadão e ativismo de design" (Hou, Francis, & Brightbill, 2005). Desde então, design ativismo tornou-se uma narrativa emergente no campo do design, paralelo ao ressurgimento da discussão e interesse na prática do design.

O ativismo do design indica pensamento, imaginação e prática aplicados conscientemente ou inconscientemente para criar contra-narrativas promovendo mudanças sociais, institucionais, esferas ambientais ou econômicas. Há vários casos de ativismo de design, que vão das agendas culturais às sociais e ambientais, convergindo para o impacto social,

concepção de sistemas de serviço público, propostas amplas para a organização social, e questões sobre consumo e estética. Assim, o ativismo do design atua como um conceito geral que incorpora muitas abordagens de design e outras conexões entre ações (Thorpe, 2009; Fuad-Luke, 2009).


Em suma, o design ativismo pode ser definido como um movimento social ligado à mudança social processos sociais. O ativismo visa desafiar os padrões dominantes de poder em favor da melhorias, razão pela qual tem a sua importância no desenvolvimento de práticas, que podem expor visões de um presente e futuro melhor e justo. Contemporâneo distancia-se da produção de artefatos e apresenta possibilidades acrescidas de diferenciando-se das práticas ligadas ao consumismo e à sociedade efêmera. Portanto, novas iniciativas de design são necessárias - como a inter-relação com outras áreas de conhecimento - na busca por cenários mais sustentáveis através do design de transição.


1.5 Design de Transição

Diante da incapacidade do sistema atual para lidar com a emergência da COVID-19 e da demanda para reestruturar nosso modo de vida indefinidamente, muitas pessoas questionam o sistema econômico, político e social contemporâneo, um fato que leva à necessidade de mudanças. Como argumenta Mascaro (2020), é impossível superar as múltiplas crises contemporâneas através do mesmo sistema que as criou. Precisamos de transformação radical e sistêmica, que não acontecerá espontaneamente devido à pandemia, uma vez que a tendência da mudança natural pós-pandemia é a manutenção do sistema atual (Davis & Klein, 2020; Harari, 202).


A mudança positiva exige organização e não ocorrerá rapidamente, mas gradualmente (Santos, 2020; Davis & Klein, 2020), como um longo processo de transição, que pode ter um contribuição do campo do design. Mais especificamente, do projeto de transição, termo incused por Irwin (2015), como atestam Gaziulusoy e Houtbeckers (2018). O projeto de transição se concentra em mudanças radicais e sistêmicas em diferentes níveis: cultural, institucional, organizacional, social, tecnológica. Desenvolve e analisa cenários baseados em locais para futuros sustentáveis baseado em teorias e ideias de ciências sociais, humanidades e engenharia que lidam com mudanças sociais e tecnológicas. A visão de longo prazo não é o único foco de transição uma vez que os cenários desenvolvidos informam e inspiram o desenho de curto e médio prazo soluções (Ceschin & Gaziulusoy, 2016; Gaziulusoy & Öztekin, 2019; Gaziulusoy & Houtbeckers, 2018; Irwin, 2015). Em uma perspectiva pós-pandemia, o design de transição pode ajudar a construir um novo e mais mundo sustentável, reforçando a necessidade de implementar a mudança por design e não por desastre. É claro que o design para a abordagem de desastres é vital para enfrentar a crise de saúde, mas destacamos a necessidade de focar mais em possíveis contribuições de design de transição. Estamos enfrentando uma distopia

com o qual ainda não aprendemos a lidar (Dunker, 2020). No entanto, os especialistas apontaram a possibilidade de uma pandemia por anos, e é provável que enfrentemos outros no futuro, para além de uma crise climática e ambiental iminente (Harari, 2020; Santos, 2020; Žižek, 2020). Temos que agir agora e mudar de design para evitar que essas crises e nos preparamos para enfrentá-los. Uma vez que as mudanças positivas exijam organização e um horizonte claro (Davis & Klein, 2020), as respostas da pandemia COVID-19 podem nos ensinar como (não) lidar com uma crise e informar que mundo devemos construir.


1.6 Referências

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