Movimento Armorial: a arte nordestina como potência erudita
- Lucas Melara
- 23 de abr.
- 2 min de leitura

No início da década de 1970, Ariano Suassuna deu nome a um movimento que buscava unir o erudito e o popular a partir das raízes da cultura nordestina: o Movimento Armorial. Mais do que uma corrente artística, o Armorial foi (e ainda é) um posicionamento estético e político diante da arte e da identidade brasileira.
A proposta era clara: criar uma arte erudita com raízes populares, sem recorrer a estereótipos. Essa intenção se concretizou em diferentes linguagens - da música à xilogravura, da dança ao bordado.
Artistas que construíram o Armorial
No campo visual, nomes como Gilvan Samico traduziram o imaginário mítico nordestino com precisão e força. Já Alcione Freitas e Zélia Suassuna contribuíram com gravuras, tapeçarias e bordados, ajudando a delinear a estética do movimento.
Na dança, o Grupo Grial levou o Armorial para o corpo. E na música, o Quinteto Armorial criou uma sonoridade que unia rabeca, pífano, viola e influências barrocas - tudo com sotaque brasileiro.
Vale mencionar também artistas como Clélia Lemos, que dialogam com os princípios do Armorial mesmo não estando diretamente ligados ao núcleo fundacional.
Rubem Valentim e a arte como ancestralidade
A obra de Rubem Valentim, embora não faça parte do movimento, compartilha de muitos dos mesmos princípios. Sua produção resgata signos sagrados afro-brasileiros com rigor formal, construindo uma arte ancestral, simbólica e politicamente potente.
O legado continua
Hoje, o Armorial continua a reverberar. Sua proposta de ruptura estética, aliada ao enraizamento simbólico, ressurge com atualidade em tempos de busca por identidade e pertencimento.
O que o Movimento Armorial ainda pode nos ensinar sobre identidade e ruptura estética?
Talvez a resposta esteja no cruzamento entre memória, território e criação. Ou, como dizia Ariano, na beleza que nasce “do chão do sertão”.