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O design pode ajudar na forma como lidamos com a morte?

Projetos, instalações e inspirações procuram desmistificar a morte através do design


É bem comum falarmos sobre design e sobre a morte, mas cada uma no seu quadrado e raramente no mesmo contexto. Em tempos de repensar nossos hábitos e nosso “ser e estar no mundo”, por que não repensar também nossa relação com a morte?


Perder uma pessoa querida nunca é fácil. Por mais que a vida siga, sempre haverá um buraco na nossa existência, que jamais será preenchido. É exatamente sobre este “buraco” que os projetos de design buscam desmistificam nossa relação com esta passagem inevitável do ciclo da vida.

A LM&Co. separou alguns exemplos que, por meio do design, buscam confortar quem fica:


Common Practice

Boas conversas inspiram, conectam e curam. Inspirados por esta premissa, a agência Common Practice tem a missão de projetar ferramentas práticas que tornem qualquer tipo de conversa acessível a todos.


Aplicando sua experiência em engenharia e design de fatores humanos, Nick Jehlen fundou a Common Practice e tem criado intervenções sociais inovadoras por mais de 20 anos. Ao longo de sua carreira, colaborou com defensores dos direitos de voto e moradia, equipes de saúde, funcionários públicos, grupos de estudantes, organizações de serviços humanos e veteranos que voltaram das guerras no Iraque e no Afeganistão. O objetivo? Construir ferramentas que criam mudanças sociais e capacitam comunidades, pautadas em métodos e movimentos sociais não violentos de Gandhi. Nick é o designer-chefe dos jogos Hello e My Gift of Grace, que têm sido usados ​​por famílias e organizações em todo o mundo para apoiar mais e melhores conversas sobre viver e morrer bem.





Modern Lost

É possível encontrar no Google várias opções de portais que tratam sobre culinária, skincare, notícias. Mas você já viu algum portal de conteúdos sobre a morte e como lidar com ela? Essa é a proposta do site Modern Lost, um lugar para compartilhar o indescritível tabu, o terreno inacreditavelmente hilário e inesperadamente belo de navegar pela vida após a morte. O projeto surgiu de experiências separadas de dois amigos com perda súbita e sua luta para encontrar recursos que não fossem muito clínicos, abertamente religiosos, condescendentes ou cafonas.



O próprio site diz que você encontrará por lá diversos ensaios pessoais de pessoas que experimentaram todos os tipos de perda, recursos como provar um testamento até obter respeitosamente seu ente querido fora da rede social e muitas maneiras de se conectar com outras pessoas que simplesmente “entendem”. Ao mesmo tempo, o portal se defende e diz abertamente ao público que julgamentos, dicas de superação e qualquer coisa que invalide sua dor estão longe do propósito do canal.


Mortech - tecnologia, design e morte

Essa talvez seja a parte um pouco mais bizarra da conversa. Você já deve ter ouvido falar em cápsula do tempo, certo? As sondas espaciais do Programa Voyager, por exemplo, atuam como cápsulas do tempo e carregam em sua estrutura um disco com informações sobre o planeta Terra, visando deixar o sistema solar na direção de outros sistemas.


Já existem iniciativas peculiares como o aplicativo Incubate, que funciona como uma "cápsula do tempo” e envia mensagens em uma data no futuro, permitindo que as pessoas se façam presentes mesmo depois de mortas.


Já o app Flutter usa a terapia musical para ajudar adolescentes em luto:

Mas a tecnologia que talvez mais traga ansiedade para quem está vivo é o Tikker Watch, um relógio que usa uma fórmula para fazer uma contagem regressiva aproximada do seu tempo na Terra.


Desmistificando la muerte


Para a designer de serviço finlandesa Marja Kuronen, o primeiro passo para melhorar nossa relação com a morte é desmistificá-la, trazê-la para o dia a dia, e aplicar o design thinking para buscar soluções viáveis e acessíveis. Ela descobriu que, na Finlândia, adultos entre 30 e 40 anos buscam uma mudança nos rituais tradicionais – eles querem tirar proveito da era digital, da inteligência artificial e dos materiais inteligentes para planejar eventos com antecedência, participar de funerais de forma remota, e ter acesso a soluções individuais.


“A compostagem do corpo já é possível em algumas partes do mundo, e no Japão, algumas pessoas atuam como planejadores de casamentos para organizar funerais. Em alguns lugares, a inteligência artificial foi usada para reunir memórias e aliviar as diferentes fases do luto”

Aqui está uma provocação eficaz da artista Jae Rhim Lee. Podemos confiar nossos corpos a uma Terra mais limpa, mais verde, mesmo depois da morte? Naturalmente -- usando uma mortalha especial, semeada com cogumelos devoradores de DNA.


Nessa linha de pensamento, a revista de design digital designboom organizou em 2013 a competição internacional Design for Death. Muitos dos projetos por ele reconhecidos têm a ver com a tradição do enterro – e essa é uma das vertentes mais populares do design relacionado à morte. Confira os projetos premiados:


Uma das alternativas ao enterro tradicional é a Eternal Reefs, que transforma as cinzas da cremação em um recife para repor a população dos corais na Flórida, nos Estados Unidos.




Urnas biodegradáveis, como a Capsula Mundi e a Bios Urn, são sustentáveis e deixam um memorial mais físico: as cinzas são enterradas com uma semente de árvore, que pode ser plantada no jardim da família.


Para as pessoas que preferem manter a lembrança mais próxima, há empresas como a And Vinyly, a Lonité, e a Ashes into Glass, que transformam cinzas em vinil, diamantes e joias, respectivamente.


Projetos como estes provam que é possível tratar da morte de uma forma sutil e, ao mesmo tempo, manter viva a lembrança e a consciência do passado.

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