Design vernacular: tecnologia social brasileira
- Lucas Melara
- 30 de abr.
- 2 min de leitura

O design vernacular está presente em práticas cotidianas que envolvem criação de objetos, soluções e visualidades desenvolvidas fora do ambiente industrial ou acadêmico. Ele nasce da necessidade, do território e do uso direto, e está associado a conhecimentos acumulados por gerações.
A curadora e pesquisadora Adélia Borges resume esse processo em uma frase: “O design vernacular nasce do contexto, do território, da urgência de fazer com o que se tem.” Trata-se de um fazer técnico e simbólico, desenvolvido por pessoas que criam a partir da própria realidade.
Exemplos que revelam o valor cultural e funcional
Em Pernambuco, os abridores de letras criam caligrafias manuais para fachadas de lojas, muros e comércios populares. Com pincéis, tintas e régua, esses profissionais constroem identidades visuais locais que ocupam o espaço urbano com precisão e estilo.
No interior de Alagoas, a Ilha do Ferro concentra uma das maiores produções de mobiliário artesanal do Brasil. A partir de galhos e raízes, moradores da região transformam matéria-prima local em cadeiras, bancos e esculturas com função e presença estética.
Nas regiões ribeirinhas do Norte, é comum encontrar tipografias pintadas à mão nos cascos de barcos. As letras se adaptam ao formato das embarcações, compondo uma linguagem gráfica própria e funcional, utilizada para identificação e comunicação visual.
Outro exemplo relevante está nas festas de largo, especialmente na Bahia. Nessas celebrações, barracas e carrinhos recebem pinturas manuais, ornamentos geométricos e faixas criadas pelos próprios donos. Essas composições servem como sinalização, decoração e expressão de pertencimento.
Reconhecimento como forma de valorização
O design vernacular expressa uma inteligência prática que mobiliza recursos disponíveis para gerar soluções funcionais. Ele revela um modo de projetar que articula contexto, materialidade e cultura local.
Reconhecer esse tipo de criação como design amplia as fronteiras do campo e permite incluir outras formas de saber e fazer. Valorizar o design vernacular como tecnologia social é também reconhecer sua contribuição para a cultura visual brasileira.