Glauber Rocha: uma visão de Brasil
- Lucas Melara
- há 7 dias
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Glauber Rocha transformou o cinema brasileiro ao construir uma linguagem própria, crítica e profundamente conectada à realidade social e política do país.
Durante a década de 1960, a maior parte dos filmes brasileiros seguia modelos importados da Europa e dos Estados Unidos. As histórias e estéticas estrangeiras dominavam as telas, enquanto a complexidade social do Brasil permanecia quase invisível no audiovisual. Foi nesse contexto que Glauber enxergou a urgência de criar um cinema que dialogasse diretamente com o povo e com a realidade brasileira.
Antes dele, algumas obras já haviam sinalizado uma mudança de perspectiva. Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, retratava a vida popular do Rio de Janeiro e quebrava com o ideal de um Brasil exótico e embelezado para consumo externo.
Glauber absorve essa inspiração e a radicaliza. Ele propõe um cinema não apenas feito sobre o povo, mas feito a partir do povo, utilizando elementos da cultura popular, da religiosidade, da luta social e das contradições políticas como eixo central de sua estética.
Deus e o Diabo na Terra do Sol: o sertão de Glauber Rocha como metáfora
Em 1964, Glauber lança Deus e o Diabo na Terra do Sol. A obra, essencialmente nordestina como o próprio diretor, traz o sertão, a luta popular e o misticismo como forças narrativas e estéticas. No entanto, o filme vai além de representar o sertão de maneira folclórica.
Glauber subverte expectativas estereotipadas: seus personagens não se limitam a símbolos fixos de pobreza ou heroísmo. Eles se debatem contra o destino, questionam suas próprias escolhas e enfrentam o território com ambiguidade e complexidade. O sertão não é apenas cenário; é personagem, conflito e metáfora viva.
A ideia de "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", difundida no contexto do Cinema Novo, resume essa nova postura cinematográfica. Glauber defendeu que a potência do cinema brasileiro não precisava vir da estrutura industrial, mas da urgência criativa, da inventividade e da ligação com o território.
O impacto de sua obra foi imediato e irreversível. Glauber projetou o Brasil para o mundo de forma inédita, conquistando prêmios em festivais internacionais e consolidando uma nova identidade cinematográfica que rompia com o olhar colonial e submisso.
Seu legado permanece atual. As imagens carregadas de símbolos, a crítica às desigualdades sociais, a experimentação formal e o compromisso político continuam inspirando cineastas e artistas que buscam novas formas de representar o Brasil contemporâneo.
Glauber Rocha filmou o Brasil e projetou uma visão crítica e simbólica que continua viva no cinema contemporâneo. Seu cinema segue como um chamado para que a arte continue sendo instrumento de pensamento crítico e de invenção simbólica.